Convite
" A Igreja convida-nos a aprender de Maria (...) a contemplar o projecto de amor do pai pela humanidade, para amá-la como Ele a ama."
Mensagem Bento XVI, Dia Mundial das Missões 2010
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
domingo, 27 de dezembro de 2020
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
domingo, 13 de dezembro de 2020
«Não vos esqueçais da alegria!», pede papa
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
Vaticano: Papa convoca Ano dedicado a São José
O Papa Francisco instituiu o Ano de São José para celebrar os 150 anos em que o santo foi declarado padroeiro da Igreja Católica. O anúncio acontece com a publicação da carta apostólica Patris corde, do Papa Francisco, nesta terça-feira, 8.
O ano especial começa hoje e segue até 8 de dezembro de 2021. E, por ocasião desta celebração, será concedida a indulgência plenária, cujo decreto também foi publicado hoje pela sala de imprensa da Santa Sé, estando disponível em latim e italiano.
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“O objetivo desta carta apostólica é aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”, explica Francisco na carta que fala de São José sob sete aspectos: pai amado, pai na ternura, pai na obediência, pai no acolhimento, pai com coragem criativa, pai trabalhador e pai na sombra.
Logo na introdução do documento, Francisco recorda que São José era humilde carpinteiro e teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus. Para defender Jesus de Herodes, foi forasteiro no Egito e, retornando à pátria, viveu na pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia, longe de Belém, a sua cidade natal, e de Jerusalém, onde se erguia o Templo.
“Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo. Os meus antecessores aprofundaram a mensagem contida nos poucos dados transmitidos pelos Evangelhos para realçar ainda mais o seu papel central na história da salvação: o Beato Pio IX declarou-o ‘Padroeiro da Igreja Católica’, o Venerável Pio XII apresentou-o como ‘Padroeiro dos operários’; e São João Paulo II, como ‘Guardião do Redentor’. O povo invoca-o como ‘padroeiro da boa morte'”, escreve Francisco no documento.
O Santo Padre explica que, ao completarem-se 150 anos da declaração do santo como Padroeiro da Igreja Católica, ele gostaria de partilhar algumas reflexões pessoais sobre “esta figura extraordinária”, tão próxima da condição humana de cada um. Um desejo que foi crescendo ao longo desses meses de pandemia, revela Francisco, em que foi possível experimentar que a vida é tecida e sustentada por pessoas comuns, que não aparecem nas manchetes dos jornais nem em grandes passarelas: médicos, enfermeiros, trabalhadores de supermercado e de limpeza, por exemplo, entre tantos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho.
“Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos. Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão”.
A carta apostólica na íntegra está disponível em língua portuguesa no site da Santa Sé. Acesse aqui.
A Imaculada Conceição da Virgem Maria
“Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15).
Se foi por meio de uma mulher (Eva) que a serpente infernal conseguiu fazer penetrar seu veneno mortal na humanidade, também seria por meio de outra mulher (Maria, a nova Eva) que Deus traria o remédio da salvação.
“Na plenitude dos tempos”, diz o Apóstolo, “Deus enviou Seu Filho ao mundo nascido de uma mulher” (Gl 4,4). No ponto central da história da salvação se dá um acontecimento ímpar em que entra em cena a figura de uma Mulher. O mesmo Apóstolo nos lembra: “Não foi Adão o seduzido, mas a mulher” (1Tm 2,14); portanto, devia ser também por meio da mulher que a salvação chegasse à terra.
Para isso foi preciso que Deus preparasse uma nova Mulher, uma nova Virgem, uma nova Eva, que fosse isenta do pecado original, que pudesse trazer em seu seio virginal o autor da salvação; que pudesse “enganar” a serpente maligna, da mesma forma que esta enganara Eva.
O pecado original, por ser dos primeiros pais, passa por herança, por hereditariedade, a todos os filhos, e os faz escravos do pecado, do demônio e da morte.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina: “O gênero humano inteiro é em Adão como um só corpo de um só homem. Em virtude desta “unidade do gênero humano” todos os homens estão implicados no pecado de Adão” (n. 404). ofício_da_imaculada
A partir do pecado de Adão, toda criatura entraria no mundo manchada pelo pecado original. O que fez então Jesus para poder ter Sua Mãe bela, santa e imaculada? Ele quebrou a tábua da lei do pecado original e jurou que, no lenho da Cruz, com Seu Sangue e Sua Morte conquistaria a Imaculada Conceição de Sua Virgem Mãe.
São Leão Magno, Papa do século V e doutor da Igreja, afirma: “O antigo inimigo, em seu orgulho, reivindicava com certa razão seu direito à tirania sobre os homens e oprimia com poder não usurpado aqueles que havia seduzido, fazendo-os passar voluntariamente da obediência aos mandamentos de Deus para a submissão à sua vontade. Era portanto justo que só perdesse seu domínio original sobre a humanidade sendo vencido no próprio terreno onde vencera” 4.
Como nenhum ser humano era livre do pecado e de Satanás foi então preciso que Deus preparasse uma mulher livre, para que Seu Filho fosse também isento da culpa original, e pudesse libertar Seus irmãos.
Assim, o Senhor antecipou para Maria, a escolhida entre todas, a graça da Redenção que seu Filho conquistaria com Sua Paixão e Morte. A Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi o primeiro fruto que Jesus conquistou com Sua morte. E Maria foi concebida no seio de sua mãe, Santa Ana, sem o pecado original.
Como disse o cardeal Suenens: “A santidade do Filho é causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu antes de ele mesmo aparecer no horizonte” 5.
O cardeal Bérulle explica assim: “Para tomar a terra digna de trazer e receber seu Deus, o Senhor fez nascer na terra uma pessoa rara e eminente que não tomou parte alguma no pecado do mundo e está dotada de todos os ornamentos e privilégios que o mundo jamais viu e jamais verá, nem na terra e nem no céu” (Tm, p. 307).
O Anjo Gabriel lhe disse na Anunciação: “Ave, cheia de graça…” (Lc 1,28). Nesse “cheia de graça”, a Igreja entendeu todo o mistério e dogma da Conceição Imaculada de Maria. Se ela é “cheia de graça”, mesmo antes de Jesus ter vindo ao mundo, é porque é desde sempre toda pura, bela, sem mancha alguma; isto é, Imaculada. E assim Deus preparou a Mãe adequada para Seu Filho, concebido pelo Espírito Santo diretamente (Lc 1,35), sem a participação de um homem, o qual transmitiria ao Filho o pecado de origem. Além disso, não haveria na terra sêmen humano capaz de gerar o Filho de Deus.
Desde os primeiros séculos o Espírito Santo mostrou à Igreja essa verdade de fé. Já nos séculos VII e VIII apareceram alguns hinos e celebrações em vários conventos do Oriente em louvor à Imaculada Conceição.
Em 8 de dezembro de 1854 o Papa Pio IX declarava dogma de fé a doutrina que ensinava ter sido a Mãe de Deus concebida sem mancha por um especial privilégio divino.
Na Bula “Ineffabilis Deus”, o Papa diz: “Nós declaramos, decretamos e definimos que a doutrina segundo a qual, por uma graça e um especial privilégio de Deus Todo Poderoso e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e deve, por conseguinte, ser crida firmemente e constantemente por todos os fiéis” (Tm, p. 305).
É de notar que em 1476 a festa da Imaculada foi incluída no Calendário Romano. Em 1570, o papa Pio V publicou o novo Ofício e, em 1708, o papa Clemente XI estendeu a festa a toda a Cristandade tornando-a obrigatória.
Neste seio virginal, diz S. Luiz, Deus preparou o “paraíso do novo Adão” (Tvd, n. 18).
Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja e ardoroso defensor de Maria, falecido em 1787, disse: “Maria tinha de ser medianeira de paz entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia aparecer como pecadora e inimiga de Deus, mas só como Sua amiga, toda imaculada” (Gm, p. 209). E ainda: “Maria devia ser mulher forte, posta no mundo para vencer a Lúcifer, e portanto devia permanecer sempre livre de toda mácula e de toda a sujeição ao inimigo” (GM, p. 209).
S. Bernardino de Sena, falecido em 1444, diz a Maria: “Antes de toda criatura fostes, ó Senhora, destinada na mente de Deus para Mãe do Homem Deus. Se não por outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha” (GM, p. 210).
Diz o livro dos Provérbios: “A glória dos filhos são seus pais” (Pr 17,6); logo, é certo que Deus quis glorificar Seu Filho humanado também pelo nascimento de uma Mãe toda pura.
S. Tomas de Vilanova, falecido em 1555, chamado de São Bernardo espanhol, disse em sua teologia sobre Nossa Senhora: “Nenhuma graça foi concedida aos santos sem que Maria a possuísse desde o começo em sua plenitude” (Gm, p. 211).imitacao_maria
S. João Damasceno, doutor da Igreja falecido em 749, afirma: “Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus uma infinita distância” (Gm, p. 211).
E pergunta S. Anselmo, bispo e doutor da Igreja falecido em 1109, e grande defensor da Imaculada Conceição: “Deus, que pode conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?”
“A Virgem, a quem Deus resolveu dar Seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens e fosse a maior imaginável abaixo de Deus” (GM, p. 212).
É importante notar que S. Afonso de Ligório afirma: “O espírito mau buscou, sem dúvida, infeccionar a alma puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a todo o gênero humano. Mas louvado seja Deus! O Senhor a previniu com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa maneira pode a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo” (GM p. 210).
Nenhum de nós pode escolher sua Mãe; Jesus o pode. Então pergunta S. Afonso: “Qual seria aquele que, podendo ter por Mãe uma rainha, a quisesse uma escrava? Por conseguinte, deve-se ter por certo que a escolheu tal qual convinha a um Deus” (GM, p. 213).
A carne de Jesus é a mesma carne de Maria e Seu sangue é o mesmo de Maria; logo, a honra do Filho de Deus exige uma Mãe Imaculada.
Quando Deus eleva alguém a uma alta dignidade, também o torna apto para exercê-la, ensina S. Tomás de Aquino. Portanto tendo eleito Maria para Sua Mãe, por Sua graça e tornou digna de ser livre de todo o pecado, mesmo venial, ensinava S. Tomás; caso contrário, a ignomínia da Mãe passaria para o Filho (GM, p. 215).
Nesta mesma linha afirmava S. Agostinho de Hipona, Bispo e doutor da Igreja falecido em 430, já no século V:
“Nem se deve tocar na palavra “pecado” em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça” (GM, p. 215).
Maria é aquilo que disse o salmista: “O Altíssimo santificou seu tabernáculo; Deus está no meio dele” (Sl 45,5); ou ainda: “A santidade convém à Vossa casa, Senhor” (Sl 42,6).
Pergunta S. Cirilo de Alexandria (370-444), bispo e doutor da Igreja: “Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?” (GM, p. 216). Assim Deus jamais permitiu que seu inimigo tocasse naquela em que Ele seria gerado homem.
S. Bernardino de Sena ensina que Jesus veio para salvar a todos, inclusive Maria. Contudo, há dois modos de remir: levantando o decaído ou preservando-o da queda. Este último modo Deus aplicou a Maria.
Se é pelo fruto que se conhece a árvore (Mt 7,16-20), então, como o Cordeiro foi sempre imaculado, sempre pura também foi Sua Mãe, é a conclusão dos santos.
Afirma S. Afonso: “Se conveio ao Pai preservar Maria do pecado, porque Lhe era Filha, e ao Filho porque Lhe era Mãe, está visto que o mesmo se há de dizer do Espírito Santo, de quem era a Virgem Esposa” (GM, p. 218).
“‘O Espírito Santo descerá sobre ti’ (Lc 1,35). Ela é portanto o templo do Senhor, o sacrário do Espírito Santo, porque por virtude dele se tornou Mãe do Verbo Encarnado”, afirmou S. Tomás (GM, p. 218).
Podendo o Espírito Santo criar Sua Esposa toda bela e pura, é claro que assim o fez. É dela que fala: “És toda formosa minha amiga, em ti não há mancha original” (Ct 4,7). Chama ainda Sua Esposa de “jardim fechado e fonte selada” (Ct 4,12), onde jamais os inimigos entraram para ofendê-la.
“Estão comigo um sem número de virgens, mas uma só é a minha pomba, minha imaculada” (Ct 6,8-9).
“Ave, cheia de graça!” Aos outros santos a graça é dada em parte, contudo a Maria foi dada em sua plenitude. Assim “a graça santificou não só a alma mas também a carne de Maria, a fim de que com ela revestisse depois o Verbo Eterno”, afirma S. Tomás (GM, p. 220).
É interessante notar que 104 anos antes de o Papa Pio IX proclamar o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Santo Afonso já escrevera seu famoso livro As glórias de Maria, em 1750, no qual defendia com excelência o dogma, firmado no unânime testemunho dos Santos Padres.
O dogma da Imaculada Conceição de Maria é um marco fundamental da fé porque, entre outras coisas, define claramente a realidade do pecado original, às vezes contestado por alguns teólogos modernos, em discordância com o Magistério da Igreja.
Foi o mesmo Papa Pio IX que, juntamente com o Concilio Vaticano I, realizado em 1870, proclamou o dogma da infalibilidade papal, questionado por muitos na época.
Enquanto os padres conciliares discutiam a conveniência da definição, levantaram-se em todo o mundo, principalmente na Alemanha e França, muitas críticas contrárias. Os jornais e as revistas enchiam suas páginas com os mais grosseiros ataques contra o Papa e os Bispos.
Muito preocupado, o Cardeal Antonielli, Secretário de Estado reuniu um grupo de Cardeais e foi com eles à presença do Papa Pio IX, suplicando-lhe que adiasse a definição dogmática da infalibilidade papal para o bem da Igreja.
Pio IX ouviu com calma a exposição do cardeal, e em tom decidido, iluminado pelo Espírito Santo e guiado por Maria, respondeu: “Comigo está a Imaculada. Eu vou adiante”.
E o Concilio Vaticano I definiu o dogma da infalibilidade papal.
Que bela expressão que cada um de nós pode repetir nas horas da luta: “Comigo está a Imaculada…”
O Catecismo da Igreja Católica afirma com toda a certeza: “Na descendência de Eva, Deus escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe de Seu Filho. ‘Cheia de graça’, ela é o fruto mais excelente da Redenção desde o primeiro instante de sua concepção; foi totalmente preservada da mancha do pecado original e permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de sua vida” (n. 508).
Além de todas as razões acima apresentadas que nos dão a certeza da Imaculada Conceição, a própria Virgem Maria, em pessoa, quis confirmar este dogma. Foi quando em 25 de março de 1858, na festa da Anunciação, revelou seu Nome a Santa Bernadette, mas aparições de Lourdes. Disse-lhe ela: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
A partir daí, o padre Peyramale, que era o Cura de Lourdes, passou a acreditar nas aparições de Maria à pobre Bernadette, e com ele toda a Igreja.
Em 27 de novembro de 1830, Nossa Senhora apareceu a S. Catarina Labouré, na Capela das filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris, e lhe pediu para mandar cunhar e propagar a devoção à chamada “Medalha Milagrosa”, precisamente com esta inscrição: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.
Quantas graças essa devoção tem espalhado pelo mundo!
Maria, por sua Imaculada Conceição, foi o marco inicial de nossa salvação, e será sempre aquela que nos levará à fonte da mesma salvação, Jesus Cristo, o esplendor da Verdade.
Hoje, mais do que antes, é preciso fazer-lhe muitas vezes aquela famosa oração que os cristãos do Egito já lhe dirigiam no século III: “Debaixo de vossa proteção nos refugiamos, ó Santa Mãe de Deus. Não desprezeis nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Maria, Imaculada, rogai por nós”.a_mulher_apocalipse
Escutemos o que nos diz São Bernardo (1090-1153), abade e doutor da Igreja, o poeta apaixonado de Maria, em seu famoso “Sermão sobre o Missus est”: “Ó tu, quem quer que sejas, que nas correntezas deste mundo te apercebas: antes ser arrastado entre procelas e tempestades do que andando sobre a terra, desviares os olhos desta Estrela, se não queres afogar-te nessas águas.
Se levantam os ventos das tentações, se cais nos escolhos dos grandes sofrimentos, olha a Estrela, invoca Maria.
Se as iras, ou avareza, ou os prazeres carnais se abaterem sobre tua barca, olha para Maria.
Se, perturbado pelas barbaridades de teus crimes, se amedrontado pelo horror do julgamento, começas a ser sorvido em abismos de tristeza e desespero, pensa em Maria.
Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Que ela não se afaste de teus lábios, não se afaste de teu coração.
E, para que possas pedir o auxílio de sua oração, não esqueças o exemplo de sua vida. Seguindo-a, não te desviarás; suplicando-lhe, não desesperarás; pensando nela, não errarás. Se ela te segurar, não cairás; se te proteger, não terás medo; se ela te conduzir, não te fatigarás; se estiver do teu lado, chegarás ao fim. E assim experimentarás em ti mesmo quanto é verdade aquilo que foi dito: ‘E o nome da Virgem era Maria.”
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
Santo André
Santo André nasceu na Betsaida. De início, foi discípulo de João Batista e logo começou a seguir Jesus. Foi por intermédio dele que Pedro conheceu o Senhor. “Encontramos o Messias”, disse ao seu irmão.
Aparece ainda no episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, quando indica a Jesus um jovem que tinha apenas cinco pães e dois peixes.
Além disso, ao lado de Filipe, dirige-se a alguns gregos e os leva a conhecer o Salvador.
A tradição assinala que, depois do Pentecostes, o apóstolo André pregou em muitas regiões e foi crucificado na Acaia, Grécia. Diz-se que a cruz em que morreu tinha forma de “X”, a qual ficou conhecida popularmente como “cruz de Santo André”.
Esta cruz recebeu as seguintes palavras do apóstolo: “Salve Santa Cruz, tão desejada, tão amada. Tira-me do meio dos homens e entrega-me ao meu Mestre e Senhor, para que eu de ti receba o que por ti me salvou!”.
Santo André é também fundador da Igreja em Constantinopla, nome antigo da atual cidade do Istambul, na Turquia.
Em um dia como este em 2014, o Papa Francisco, sucessor do Pedro, e o Patriarca Bartolomeu, herdeiro de Santo André, renovaram na Turquia os laços de irmandade entre ambas as Igrejas.
Naquela ocasião, durante a homilia, Francisco dirigiu estas palavras ao Patriarca: “Amado irmão, caríssimo irmão, estamos já a caminho, a caminho para a plena comunhão e já podemos viver sinais eloquentes de uma unidade real, embora ainda parcial. Isso nos conforta e sustenta na prossecução deste caminho”.
Por fim, declarou: “Temos a certeza de que, ao longo desta estrada, somos apoiados pela intercessão do Apóstolo André e do seu irmão Pedro, considerados pela tradição os fundadores das Igrejas de Constantinopla e de Roma. Imploramos de Deus o grande dom da unidade plena e a capacidade de o acolher nas nossas vidas. E não nos esqueçamos jamais de rezar uns pelos outros”.
domingo, 29 de novembro de 2020
Mensagem da Conferência Episcopal Portuguesa para o Advento - Conferência Episcopal Portuguesa
Mensagem da Conferência Episcopal Portuguesa para o Advento
Deus vem e enche o nosso tempo de “Bom-Dia”!
1. Advento. Deus vem. Deus vem, Deus saúda, Deus fala, Deus ama, Deus chama, Deus ordena, Deus escuta, Deus responde, Deus envia. Advento. Sujeito Deus. Primeiro Deus. O Deus do Advento, o Deus que Vem traz consigo uma grande carga verbal, que convém que se torne “viral” na nossa vida. Imitação de Deus. Deus que vem para nos dizer “Bom-Dia!”, que é o modo de fazer do Senhor Ressuscitado quando se apresenta no meio de nós, e diz: “Shalôm!”, “A Paz convosco!”.
2. Esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, que ressoa desde a Criação, entra em nós, enche-nos de Bondade e de Alegria, e faz-nos encontrar um modo novo de encarar a vida. Esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, estabelece connosco uma relação nova e boa, não nos transmite uma informação, não tem em vista um negócio, não solicita a nossa reflexão ou decisão. Não nos deixa a pensar, a escolher, a decidir. Apenas a responder. Apeia-nos, portanto, do pedestal do nosso “eu” patronal: eu penso, eu quero, eu decido, eu, eu, eu…, e deixa-nos apenas a responder. Apenas. Como se responder fosse coisa pouca. Responder ao Senhor da nossa vida. Ao “Bom-Dia” responde-se “Bom-Dia”. É a Bondade sete vezes dita na Criação, o Sentido da Criação e da Vida a passar de mão em mão, rosto a rosto, coração a coração. Do coração de Deus para o nosso coração. Dos nossos corações uns para os outros. Avenida ou torrente de Bondade e de Fraternidade. Advento. Deus vem e enche o nosso tempo de “Bom-Dia”!
3. Quando alguém te diz: “Bom-Dia!”, já sabes então o que isso significa, implica, replica, multiplica. Imagina agora que à beira da estrada encontras um pobre homem caído, abandonado, a esvair-se em sangue. Ao ver-te passar, balbucia para ti, ou apenas acende uma voz dentro de ti, que te diz, mesmo sem o dizer: “Olha para mim”, “olha por mim”, “cuida de mim”. Repara bem que o pobre não te diz: “Se quiseres, podes cuidar de mim”. Se assim fosse, podias pensar e decidir, sem precisares de descer do trono da tua sacrossanta liberdade de escolha. Mas o “cuida de mim” que o pobre balbucia para ti não é opcional: é uma súplica que é um mandamento; não tens opção de escolha; tu é que foste escolhido; tens de responder que sim, debruçando-te sobre o pobre desvalido que ordena e implora o teu auxílio. Repara bem: o pobre que jaz à beira da estrada elege-te e obriga-te, sem te obrigar, a debruçares-te sobre ele. Movimento inaudito: agora que te debruçaste sobre ele, que ordenou e implorou o teu auxílio, podes entender melhor a sua condição de soberano. Ele é, na verdade, o único verdadeiro soberano, pois sem te apontar nenhuma espingarda ou maço de dinheiro, fez com que tu te debruçasses sobre ele, libertando-te dos teus projetos e negócios, horários, agendas, calendários. Os poderosos e tiranos podem e sabem apenas escravizar-te. Mas não podem nem sabem libertar-te!
4. Por isso, o Deus que vem agora visitar-nos confunde-se com os pequeninos (cf. Mateus 25,40.45), e neles vem amorosamente ao nosso encontro, para conversar connosco, para nos dizer “Bom-Dia”, e ordenar suplicando: “Cuida de mim”. Estava atento Isaías, o profeta do Advento, que ouve Deus a dizer assim: «em lugar alto e santo Eu habito, mas estou também com os oprimidos e humilhados, para dar vida e alento aos que não têm espaço nem sequer para respirar, aos que têm o coração despedaçado» (Isaías 57,15). Bem podia o profeta dizer que Deus desceu à nossa pandemia. E nós, os habitantes da pandemia, bem podemos rever-nos no Salmista que reza: «Do “confinamento” invoquei o Senhor» (Salmo 118,5), chegando-nos a resposta outra vez através de Isaías: «No tempo favorável te respondi; no dia da salvação te socorri» (Isaías 49,8), resposta que Paulo também regista, atualiza e pontualiza: «É agora o tempo favorável! É agora o dia da salvação!» (2 Coríntios 6,2).
5. O andamento do Advento traz-nos um Deus que vem para o meio de nós e da nossa anemia e pandemia, e diz: “Bom-Dia”, e suplicando ordena: “Cuida de mim”. É terrível termos de assumir que, se não cuidamos bem dos pobres e necessitados, também não cuidamos bem de Deus! Mas é agora o tempo favorável! É agora o dia da salvação! É agora o tempo da enchente da Palavra de Deus, de que não devemos fugir, mas a que nos devemos expor. O nosso “eu” patronal e autorreferencial entrará em crise, e teremos de mudar comportamentos. Acolher e responder deve ser o nosso alimento. O Deus que vem não vem mudar as situações. Vem mudar os corações. E são os nossos corações mudados que podem mudar as situações. O Advento é tempo de mudança e de esperança. Celebrar o Advento é deixar entrar em nós esta torrente de Bondade, esta Saudação, este Shalôm, esta Paz, este “Bom-Dia”, este “Cuida de mim”. E responder “Bom-Dia!”, e responder que “Sim”.
6. Sim, porque a resposta de Deus hoje somos nós. «Desci a fim de libertar o meu povo da mão dos egípcios…», diz Deus a Moisés, mas pega logo em Moisés pela mão, e diz-lhe: «E agora vai; Eu te envio ao Faraó, e faz sair do Egito o meu povo» (Êxodo 3,8.10). Texto grandioso e emblemático. O Deus do Advento vem para o meio desta pandemia, pega na nossa mão, muda o nosso coração e envia-nos a mudar a situação. Está aberta a oficina do Advento: enquanto uns se afadigam na vacina, outros nos hospitais, outros nos lares, nas farmácias, na padaria, empenhemo-nos todos em encher este mundo de Paz, de Esperança e de “Bom-Dia”, à imagem e sob a proteção maternal de Maria!
Lisboa, 22 de novembro de 2020
terça-feira, 24 de novembro de 2020
domingo, 22 de novembro de 2020
sábado, 14 de novembro de 2020
Eucaristia pelas vítimas da pandemia, em Fátima, reuniu bispos e autoridades nacionais, evocando famílias, profissionais da saúde, investigadores e cuidadores
Para ler com atenção...
Irmãos e irmãs,
A pandemia que
está a condicionar todo o planeta coloca-nos diante da evidência do dom
precioso que é a vida humana e de todas as capacidades de que somos capazes
para a defender, mas igualmente da fragilidade do nosso ser individual, das
nossas realizações sociais, políticas, económicas e científicas, bem como do
próprio mundo que habitamos. De certo modo, entrou em paralise quando isto
chegou.
Celebrar diante
de Deus aqueles que partiram como vítimas diretas e indiretas da pandemia
significa reconhecê-los não apenas como números de uma estatística, mas como
criaturas amadas de Deus, abrindo-se a um itinerário de vida que vai para além
daquilo que conhecemos e podemos nesta terra.
Com aqueles e
aquelas que nos deixaram, recordamos também quantos os acompanharam de mais
perto na derradeira etapa da vida, a maior parte deles nos hospitais e nos
lares, mas muitos no isolamento das suas casas: os profissionais da saúde, os
investigadores, os cuidadores e colaboradores de tantas profissões e os que
assumem a responsabilidade de organizar todo este esforço.
A sua dedicação,
esforço, inteligência e abnegação são a expressão do apreço da nossa sociedade
pela vida e de quanto está disposta a investir para defendê-la e apoiá-la,
embora, tantas vezes, não seja coerente com esses objetivos.
Quem dera que
sejamos capazes, como país e como humanidade, de manter esta hierarquia de
valores, de proximidade e verdadeira misericórdia para com a fragilidade,
tantas vezes dramática, da nossa condição humana e do planeta que habitamos.
Se aprendermos
desta epidemia a cuidar uns dos outros e juntos deste mundo, teremos feito
justiça e boa memória dos que partiram e dos esforços de quantos os
acompanharam na última etapa da vida nesta terra.
No entanto, mesmo
envidando todos os esforços, chegamos sempre à conclusão de que eles são
limitados e, a um certo ponto, param, não podem ir mais além. Aceitar que a
vida das pessoas e do planeta é sempre delicada e finita é uma lição desta
crise que vivemos. Aceitar e integrar esta finitude num projeto de vida com
sentido é a mensagem que nos trazem as leituras que acabámos de proclamar nesta
Eucaristia.
A primeira
leitura, tirada do livro de Job, certamente uma das obras-primas da tradição
literária da humanidade, traz-nos o grito, não de um filosófico distante, mas
da dura e dramática realidade de um homem justo e de sucesso, subitamente
atingido por uma série de desgraças, vítima finalmente, depois de ver destruída
e destroçada a sua família e os seus bens, de uma doença destrutiva que o isola
e diante da perspetiva inevitável da morte. É bem a imagem de tantos homens e
mulheres nestes últimos meses, mas sempre, de uma forma ou de outra, de toda a
natureza humana.
Embora reconheça
que não é perfeito, Job não aceita a ideia de que as suas desgraças são um
castigo de Deus, com sugerem os que o observam e julgam, apontando o dedo, mas
nunca estendendo a mão amiga. Não teoriza a dor nem a injustiça, mas sente-as
dramaticamente na carne. O seu grito ecoa por toda a humanidade e por todos os
tempos, como aflição, como protesto, como rebeldia, e finalmente como paradoxal
confiança: “Eu sei que o meu redentor vive e, por último,
sobre o pó se elevará. Mesmo que desfeita seja a minha pele, na minha própria
carne verei a Deus. Eu mesmo o verei, os meus olhos o hão de contemplar e não
como um estranho”.
O seu grito é, ao
mesmo tempo de protesto pela situação aflitiva em que se encontra, de
perplexidade, de incompreensão de si próprio e de Deus, mas igualmente de
proclamação de uma confiança que nem ele sabe como exprimir, mas apenas gritar
na sua dor. É como o grito de uma criança que nem sabe a razão por que chora,
chora porque sabe que a mãe ouve. É esse grito de toda a humanidade, que não se
conforma nem resigna, mas que se esforça por cuidar e amparar a vida em todos
os seus momentos, e por encontrar sentido na luta por superar todas as crises
que vai experimentando. Esse é Job.
Até ao fim da
existência, Job não é um resignado, mas um lutador, não é um acomodado, um
iludido com falsas esperanças, nem acomodado a soluções e explicações fáceis,
mas um peregrino da verdade, da justiça, da vida. Esta é bem a imagem digna da
humanidade que sonhamos.
Por outro lado,
ele percebe que a vida é um dom absoluto e não apenas uma conquista: ninguém
paga o bilhete de entrada nem a viagem de saída. Tudo é um milagre do cuidar e
do amparar. Nascemos e sobrevivemos pela ação de outros que cuidaram de nós,
porque senão não seríamos viáveis; foram eles que nos acompanharam no
desabrochar da nossa vida. Ao sentir a proximidade de concluir o percurso
existencial, Job percebe que o que se segue já não pode ser o resultado do
engenho, nem sequer do carinho humano. Por isso, grita, argumenta e pede a Deus
que faça jus ao seu nome de “justo e misericordioso” e se revele como Criador e
Cuidador da sua fragilidade.
Esta é a dupla
mensagem que Job nos deixa: investigar, procurar, interrogar-se, cuidar; e, ao
mesmo tempo, confiar e abrir-se a um mundo onde só pode ser conduzido pela mão
poderosa e carinhosa de Deus.
É isso também que
nos dizem as irmãs de Lázaro, de que nos fala a leitura do Evangelho. É um
texto todo ele simbólico, mas muito real, da situação de cada um e cada uma de
nós. Estas irmãs têm consciência que a vida é o dom primeiro e fundamental de
Deus. Sabem também que Deus se manifestou amigo e próximo em Jesus, amigo de
família, que tinham convidado para casa, que tantas vezes tinha partilhado com
eles o pão de cada dia. Quando o irmão adoeceu, tinham-lhe mandado dizer: “Lázaro, aquele de quem tu és amigo está
doente”. Não dizem simplesmente “o teu amigo”, dizem “aquele de
quem tu és amigo” está doente. Por isso, quando Jesus chega, três dias depois
da morte de Lázaro, exclamam, em tom de luto, que não está isento de uma
confiança ferida e de crítica velada: “Se
tivesses estado aqui, o nosso irmão não teria morrido”. Quantas
pessoas não têm tido esta experiência nestes dias, à beira de um túmulo dos
seus queridos? Por que é que Deus, que o amava, não atuou? Por que é que se
mantém silencioso e parece à distância?
Diante da dor das
irmãs e da evidência do amigo morto, diz o evangelista que Jesus “se comoveu profundamente” e
em seguida chorou. Essa é a expressão de Jesus, um como nós, que passou pelas
nossas dores, as nossas perplexidades, que grita ao Pai, até, “por que me abandonaste?”. Esse
é o sentir de Jesus perante o sofrimento e a morte. Ele sabe, por experiência
própria, o que é o sofrimento e a morte; ama esta família amiga (que somos nós
todos), cujo irmão morreu, e partilha o nosso luto, a nossa dor e as nossas
lágrimas, como fez ao longo de toda a sua vida, com os doentes, os excluídos,
os pecadores. Porque era um homem sensível, sentiu a fome da multidão; porque
sabia o que era a dor, aproximava-se dos feridos, dos doentes; porque era
alguém que via e sentia o sentido da vida, aproximava-se daqueles que não
tinham esperança.
Mas não veio
apenas para chorar e partilhar a nossa morte; veio para abrir as portas dessa
prisão e grita, diz o evangelista, “profundamente
perturbado”, diante do túmulo que, em breve, ele próprio também
experimentará: “Retirem a pedra”, retirem o
obstáculo desse túmulo que causa horror, separação e rejeição como dizem as
irmãs: “Já cheira mal, é já o quarto dia”.
É essa porta, diz Jesus, é essa pedra que é preciso arrancar. À voz de Jesus, o
morto sai vivo, mas o que a família vê – o que nós vemos e nos causa
perturbação – é ainda um morto, envolto nas ligaduras, que são esse modo humano
de encerrar os defuntos na prisão subterrânea da morte.
Mas Jesus não vê
assim os seus amigos que passaram desta vida. Por isso, dá outra indicação
fundamental para esta família amiga: “Desatem
essas ligaduras! Deixem-no ir!”. Não teimem em ver aqueles que já
partiram simplesmente com o vosso sentir, o vosso saber e o vosso poder. Deus é
maior, mais poderoso e carinhoso do que vós. Aquilo que sentis, uns pelos
outros, é só o reflexo de quanto Deus vos ama. Vós já não controlais o caminho
dos vossos queridos que partiram; eles estão nas mãos do Pai do céu. Cuidastes
deles até aqui, mas o amor do Pai é maior do que o vosso e cuida deles por
caminhos novos e transformados. Deixai-os ir em paz! Conservai a memória deles
com carinho, continuai o bem que eles fizeram; sede misericordiosos com as suas
faltas e limites e limpai da vossa mente os litígios e feridas que vos ficaram,
pois é assim que Deus faz com eles e convosco.
Hoje, no meio da
pandemia, celebrando a memória daqueles que partiram, Jesus vem visitar as
nossas famílias feridas pela saudade – particularmente aqueles que hoje
choram os seus entes queridos – e, em muitos casos, estão sob o peso de não
terem podido dar-lhes a presença e a assistência que desejavam; tolhidas pelo
luto que não puderam fazer e que ainda dói. Como em casa da família de Lázaro,
Ele que passou pela morte e está vivo para sempre, vem trazer-nos o conforto da
sua presença amiga e abrir os nossos olhos e os nossos ouvidos para a grandeza
do poder e do amor do Senhor, Criador e Pai do céu. Penso que Ele continua a
sugerir ao nosso coração:
“Vinde a mim todos vós que
andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt
11,28).
Vinde, vós que experimentais a
dor e a doença, nos hospitais, nos lares ou nas famílias,
Vós que assistis os doentes até
à exaustão e ao desânimo e que sois as minhas mãos para levantar, cuidar e
acarinhar. Vós que não suportais mais confinamentos e limitações, e sentis
desejo de irrefreável de liberdade, companhia e festa. Aprendei de mim a cuidar
uns dos outros com responsabilidade, competência e generosidade. Sede
portadores de vida e de bem e procurai não transmitir o mal a ninguém, mas
ajudai quem precisa e partilhai com aqueles que não têm.
Conservai a memória dos vossos
queridos com quem partilhastes a vida. Eu partilho e enxugo as lágrimas da
vossa saudade,
pois o Pai do céu é que cuida
deles com mão forte, fiel e misericordiosa.
Não vivais angustiados com a
vossa vida e o vosso futuro,
Eu estarei sempre convosco,
mesmo quando vos sentirdes sós e abandonados.
Tende confiança e cuidai uns
dos outros e vencereis esta crise como construtores de um mundo mais justo,
fraterno e em paz. E sereis peregrinos de uma Nova Cidade e um Mundo Novo, onde
vos preparo o banquete da vida que não tem fim.
Amen.
D. José Ornelas, presidente da
Conferência Episcopal de Setúbal