Convite


" A Igreja convida-nos a aprender de Maria (...) a contemplar o projecto de amor do pai pela humanidade, para amá-la como Ele a ama."



Mensagem Bento XVI, Dia Mundial das Missões 2010
















domingo, 6 de novembro de 2022

05 de Novembro de 2022 Homilia na Missa exequial de D. Daniel Batalha Henriques
Aprendamos com D. Daniel a viver em ação de graças Irmãos caríssimos, entre todas as imagens que a tradição bíblica nos oferece, para entrevermos o rosto de Deus, a mais expressiva será precisamente a do Bom Pastor, que cuida do seu povo e de cada um dos seus crentes. Imagem que ganha total evidência na pessoa de Cristo, manifestada no Evangelho que ouvimos e com as caraterísticas que tem. Bom Pastor que conhece as suas ovelhas, todas e cada uma, que cuida especialmente das mais frágeis e vai buscar a que se perde, chegando ao ponto absoluto de por elas dar a própria vida. A experiência cristã só acontece quando O sentimos assim em relação a nós, daí brotando confiança e ação de graças. Brota também algo mais, ou seja, que sejamos propriamente dos seus, quando com Ele nos tornamos também pastores para os outros, com idêntico cuidado e sentimento. Di-lo claramente Cristo, em frases como estas, que conhecemos bem: «Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que vos mando … O que vos mando é que vos ameis uns aos outros … Amai-vos como Eu vos amei». Neste momento em que agradecemos a Deus a vida e ministério de D. Daniel, tudo isto se torna ainda mais evidente, por ter sido maravilhosamente demonstrado em muito do que disse e do que fez. É por ter participado tanto e tão bem do Espírito de Cristo, que agora o sentimos presente e com ele continuaremos a contar no futuro. Porque a caridade – e a caridade pastoral, no seu caso – nunca acabará. Poderia continuar assim, e muito mais haveria a dizer, partindo das Leituras que ouvimos e evocando a vida deste grande cristão que tivemos a graça de conhecer tão de perto. Acontece, porém, que ontem mesmo tive acesso a alguns escritos seus, que me deixou para ler após a sua morte. São de tal riqueza espiritual, de tanta verdade cristã por ele vivida, que não posso deixar de os partilhar convosco nesta homilia, que passa a ser propriamente sua. Assim nos resume a sua vida em “O meu testamento”, texto que foi escrevendo de setembro de 2019 à Quaresma de 2020: «Do nada que sou, desta poeira ínfima na imensidão do tempo e do espaço, ouso elevar a Deus Pai todo o meu louvor e a minha adoração. […] Olho com profunda gratidão para aquele dia 6 de maio de 1966 em que, levado nos braços de meus queridos pais, fui iluminado pela graça batismal. […] Como um agricultor dedicado e providente, cuidastes desta semente através dos meus pais, destes-me catequistas que ajudaram a maturar a fé e o amor à Igreja, preparando-me para aquele dia maravilhoso em que vos recebi na minha primeira comunhão e onde pude exclamar com Santa Teresinha do Menino Jesus “Ah! Como foi doce o primeiro beijo de Jesus à minha alma!”. Agradeço-Vos a paciência nas minhas resistências à fé no tempo da adolescência e o modo como logo me envolvestes, de forma apaixonada, na Vossa Santa Igreja, através do grupo de jovens que integrei e da catequese que, ainda com quinze anos, comecei a dar a crianças pequeninas, no coro alto da capela de Ribamar. Louvo-Vos, Senhor, pelo dom dos sacerdotes na minha vida, pelos seus rostos e vidas concretas onde senti a Vossa presença carinhosa e solícita. […] Eu Vos louvo, Senhor, pela bênção incomensurável que foram os seminários que frequentei ao longo dos oito anos da minha juventude. O de São Paulo, em Almada (1982-1986) e o de Cristo-Rei, nos Olivais (1986-1990). Agradeço-vos os sacerdotes das suas equipas formadoras, que tanto me ajudaram a crescer como pessoa e como cristão, bem como a discernir os sinais vocacionais que me íeis enviando. […] Agradeço-Vos, Senhor, terdes-me chamado a uma mais íntima união convosco através do sacramento da Ordem. Ainda hoje me confunde ver como escolhestes um pobre jovem de apenas 24 anos para uma missão tão grandiosa: ser presença na terra do Vosso Coração ardente de amor e disposto a oferecer-se em oblação para que todos “tenhamos vida e a tenhamos em abundância”. […] Olho cheio de comoção e gratidão para estas três décadas de vida sacerdotal. Para as primícias, os sete anos em que integrei a equipa formadora do seminário de Almada. Em cada seminarista, um mistério de amor e de cuidado pelo vosso Povo, que me confiastes para ajudar a crescer e a amar-Vos sempre mais, na Vossa Igreja. Os vinte e um anos como pároco em Famões e Ramada, em Algés e Cruz Quebrada e em Torres Vedras e Matacães. Como Vos amei e fui amado, no meio e por meio do Vosso Povo Santo! Que dons incontáveis me concedestes! Como me fizestes crescer, também nas provações e nas incertezas!» Finalmente, sobre o episcopado, como lhe surgiu e como o cumpriu: «E então, Senhor, fizestes-me chegar àquele dia dois de outubro de 2018, quando o Senhor Patriarca D. Manuel Clemente me deu a conhecer que, através do Santo Padre, me chamáveis ao episcopado. Confesso-Vos, Senhor, que demorou tempo a ter sobre tal um olhar verdadeiramente cristão. Uma profunda insegurança, medo, confusão e resistência interior, foram os primeiros sentimentos, demasiadamente humanos, que me assaltaram. Da minha doce e tranquila condição de pároco seria arrebatado para o mar encapelado de um futuro que verdadeiramente me apavorava. […] Mas depois, Senhor, a Vossa Graça me trouxe ao caminho certo, aos Vossos caminhos, não os meus. Lembrei-me como, desde o dia da ordenação sacerdotal, a nada me tinha negado de quanto a Igreja me pedira na pessoa do meu bispo, nada tinha escolhido e nada tinha preferido, Este “sim” constante, estou absolutamente certo, é obra Vossa e não fruto da minha carne e do meu sangue». Um episcopado muito marcado pela doença que surgiu. Pela doença que viveu numa atitude inteiramente pascal. Oiçamos o que escreveu na Quaresma deste ano de 2022: «A Vós, Senhor, o meu canto de louvor. A Vós, toda a honra e toda a glória. Por puro dom da vossa liberalidade, destes-me a graça de ainda poder cantar os Vossos louvores nesta terra do meu peregrinar, mais de dois anos e meio depois de me saber doente de um cancro colonorretal particularmente agressivo. […] Muitos me falam em pedir um milagre, o milagre da minha cura. Mas para mim, Senhor, este milagre já se realizou. Melhor, é um milagre em progresso, que se renova com o passar dos dias e dos meses. […] Depois de alguns dias vividos em alguma perplexidade, logo a tempestade se acalmou e me fizestes navegar em águas tranquilas. […] Fizestes-me compreender que esta doença é uma nova missão que me convidais a abraçar, uma missão específica dentro do chamamento ao episcopado. Também isto me trouxe grande paz, Senhor: não encarar esta doença como uma limitação no ministério episcopal, mas antes uma forma de exercer o episcopado a que Vós, nos Vossos insondáveis desígnios, agora me chamais […]: a proximidade com quem mais sofre, o testemunho e confiança na adversidade, a experiência da alegria inefável que nasce da Esperança cristã, a certeza Pascal da vitória da Vida sobre a morte, a fecundidade da doença tornada dom salvífico, quando me uno a Vós. Tudo isto, vivido na carne macerada pela doença, para que se “complete na minha carne o que falta à Paixão de Cristo” (Col 1, 24)». Concordemos, irmãos e irmãs, que quem vive e fala assim, já conhece tudo o que Deus nos oferece em Cristo, seja a nossa vida o que for e como for. Por isso mesmo, a fecundidade do ministério do nosso querido D. Daniel foi tão grande. E assim continua a ser, irradiando a Páscoa de Cristo. - Aprendamos com D. Daniel a viver em ação de graças. Por nós e por todos, por nós e para todos! Sé de Lisboa, 5 de novembro de 2022 + Manuel, Cardeal-Patriarca

sábado, 5 de novembro de 2022

Partiu um amigo de juventude, com quem partilhei muitos momentos marcantes das nossas vidas e da vida da Igreja... "Vinde, Benditos de Meu Pai, recebei em herança o Reino..." «Partiu em paz, como em paz viveu toda a sua doença e sobretudo estas últimas semanas de hospitalização.» 𝘋. 𝘔𝘢𝘯𝘶𝘦𝘭 𝘊𝘭𝘦𝘮𝘦𝘯𝘵𝘦 Partiu em paz, viveu em paz... foi "homem do silêncio e da escuta"! E agora, como Santa Teresinha, há-de passar o Céu a fazer bem à terra, pois leva-nos a todos no seu coração de Pastor! Obrigada!
O Sr. D. Daniel foi diretor do Serviço de Animação Missionária do Patriarcado de Lisboa e depois, como Bispo auxiliar, foi o responsável pelo acompanhamento deste serviço da nossa Diocese. Com ele fizemos caminho nos últimos anos e estamos muito gratos por tudo o que vivemos e sonhámos em conjunto. Da homilia do Sr. Patriarca na Missa das Exéquias do Sr. D. Daniel, a 5 de novembro de 2022, citando um texto escrito pelo próprio e intitulado O meu testamento: “A Vós, Senhor, todo o louvor |…| Fizestes-me compreender que esta doença é uma nova missão, que me convidais a abraçar, uma missão específica, dentro do chamamento ao episcopado. Também isto me trouxe grande paz Senhor, não encarar esta doença como uma limitação ao ministério episcopal, mas antes uma forma de exercer o episcopado, a que Vós, e os Vossos insondáveis desígnios, agora me chamais: a proximidade com quem mais sofre, o testemunho e confiança na adversidade, a experiência da alegria inefável que nasce da esperança cristã, a certeza pascal da vitória da vida sobre a morte, a fecundidade da doença, tornada dom salvífico, quando me uno a Vós. Tudo isto, vivido na carne macerada pela doença, para que “se complete na minha carne, o que falta à paixão de Cristo.” MAGNÍFICO! Este é, verdadeiramente, o sentido do sofrimento e da morte para um cristão! Contámos com ele até agora e continuaremos a contar no futuro, pois ele foi e é missão!