Tradição dos Missionários do Espírito Santo
na Calheta de S. Miguel
Esta é uma Paróquia que teve e continua a ter uma forte tradição missionária e Espiritana. Desde os anos 45 que tem tido uma presença Espiritana. Basta lembrar, com saudade, o nosso Pe. Eduardo Moniz, natural da ilha dos Açores e o Pe. Cretazz, natural da Suíça, que foram os dois grandes alicerces desta Igreja local. Foram estes dois Espiritanos que deram estrutura e solidez a esta Paróquia. Presença essa que continuou depois com um conjunto sucessivo de Párocos todos eles da Congregação do Espírito Santo.
Quando cheguei, encontrei aqui uma equipa de quatro confrades (o Pároco, Pe. Nuno Rodrigues, natural de Leiria, superior, com 37 anos de idade, o Pe. Ferreira da Silva, natural de Santa Maria da Feira, com 80 anos de idade, o seminarista estagiário Christophe Kayembe, natural do Congo, com 28 anos de idade e o Pe. Alfredo Inácio, natural de Angola, com 29 anos de idade) que me acolheu, de modo muito fraterno, e me fez sentir verdadeiramente membro desta família.
Esta comunidade tem um Projecto de Vida Comunitária, bem definido ao qual, cada membro, procura dar cumprimento.
Todos os anos, por duas vezes, Advento e Quaresma, estes missionários visitam os doentes da Paróquia, que recebem a presença do sacerdote nas suas casas.
No Dia Mundial das Missões, 24 de Outubro, tive a possibilidade de ir com o Sacerdote visitar um doente a sua casa, visita essa durante a qual recebeu os últimos sacramentos. Fiz aqui referência a essa experiência única, na minha vida, e hoje deixo, a foto da casa onde visitámos Nhô Pedro. Acrescento que este senhor, cristão empenhado e catequista ao serviço da paróquia, durante muitos anos, partiu para o Pai durante esta semana que passou. Vejam como foi importante esta caminhada, monte acima, para lhe levar a possibilidade de preparar a sua alma para este encontro derradeiro, para esta Páscoa que se aproximava… Bem-haja por tudo nhô Pedro! Até pelo testemunho cristão que nesse momento ainda nos deu… Paz à sua alma!
Nestas duas últimas semanas foi a visitar doentes que os nossos Missionários ocuparam quase todas as manhãs…
Como eu dei aulas e estive impedida de os acompanhar resolvi enviar as mesmas perguntas aos três e esperar que me respondessem, pois estava muito interessada em saber como tinham sido estas visitas:
1ª - Quantos doentes visitou durante estas duas semanas?
Padre Nuno: Eu e o meu colega, Padre Alfredo, visitámos 100 doentes.
Christophe: 16.
2ª - Em quantos lugares da Paróquia?
Padre Nuno: Nos lugares: Achada da Laje, João Dias, Saltos Abaixo, Tagarra, Pedra Serrada, Monte Bode e Pedra Barro.
Christophe: Em cinco lugares da paróquia.
3ª - O que o motiva a visitar os doentes?
Padre Nuno: Levar a presença de Deus e da Igreja junto de quem sofre e faz ainda parte desta nossa Igreja em caminhada para a vida eterna
Um outro motivo pessoal que acresceu este ano foi o facto de ter acontecido a morte do meu avô. Com este acontecimento percebi melhor como é bom ajudar os doentes a prepararem-se para o encontro definitivo com Deus com a presença da Igreja, pelo sacerdote.
Christophe: Conhecer a realidade da missão, participar na acção missionária da Igreja.
4º - O que mais lhe custou durante estas semanas?
Padre Nuno: O cansaço físico de ter de andar a pé e de, por vezes, entrar em algumas casas sem a mínima higiene.
Christophe: Não me custa visitar os doentes, embora o caminho não seja bom. O sacrifício é o melhor preço da missão.
5º - O que lhe deu mais alegria nestas visitas?
Padre Nuno: O perceber e sentir como os doentes se sentem felizes com a presença do sacerdote. Ver também que muitas destas pessoas, agora doentes, serviram a paróquia com muito ardor e empenho.
Christophe: Estar só com os doentes, é o bastante para mim. Pobre no meio dos pobres. Mas fica um desafio: saber se se chega à idade deles. Quem sabe, se não Deus?!
6º Autoriza que partilhe com os meus amigos as suas respostas
Padre Nuno: Com todo o gosto e alegria. É partilhando que nos enriquecemos uns aos outros.
Christophe: A liberdade é a última instância de nosso agir. A vontade é saber distinguir o que é bem e o que é mal e afinal saber assumir as consequências.
7º No caso de ter respondido afirmativamente à pergunta anterior, quer dirigir-lhes alguma mensagem?
Padre Nuno: Pois claro, como é bom sentirmo-nos tão perto mesmo longe. E como é agradável viver a mesma fé, numa comunidade de cinco pessoas diferentes, padres, seminarista e leiga, mas com o mesmo sentir que a todos nos une: o amor a Jesus Cristo e ao próximo.
E já agora uma outra coisa; amigos da Profª Paula, muito obrigado por terem “deixado” que este ano fossemos nós a partilharem a riqueza desta pessoa neste meio missionário. A sua presença no nosso meio tem sido uma riqueza e um desafio. Aguentem as saudades!
Muito grata pela partilha fraterna, acompanho-o pela oração,
Paula Silvestre
No dia 17 de Novembro tivemos a celebração Eucarística de acção de graças do 101º Aniversário de nha Luísa… Vejam a ternura do amor de Deus que se faz presente na mão do Sacerdote. Tão feliz que estava esta senhora!
No dia 18 celebrou-se, em casa, o matrimónio de nhô José e nha Maria Paula, já casados pelo civil há vários anos. O senhor, idoso, doente, e numa cadeira de rodas, quando acabou a celebração, disse feliz: “ Já entrei de novo no rebanho de nhô Dés.” Estar, de novo, em comunhão com Deus, a maior felicidade…
Sábado, 20 de Novembro, enquanto eu trabalhava a Avelina veio chamar-me, dizendo que estava cá um senhor que queria falar comigo. Fiquei surpreendida mas fui ao seu encontro. Encontrei um catequista cá da Paróquia, que já conheço de vista, e me perguntou se está tudo bem comigo, respondi-lhe que sim, com a graça de Deus. Disse-me: “ vim cá trazer isto” (e estendeu-me a sua mão fechada, procurando que eu recebesse o que nela trazia) para que a senhora, quando passar em algum sítio e vir uma coisa que goste, possa comprar”. Olhei, completamente surpreendida, para a minha mão, que tinha uma nota de 1000$00 muito enroladinha e a única coisa que consegui fazer foi agradecer ao senhor que se foi embora, feliz!
Durante algum tempo procurei encontrar explicação para este acontecimento… que me deixou completamente surpreendida… mas não consegui… já nem sei se o Padre quando me apresentou à comunidade disse que eu vim como voluntária, sem ganhar nada… o que é certo é hoje fiquei quase sem palavras, face à atitude generosa deste catequista idoso….
Hoje é Domingo de Cristo Rei (final do ano litúrgico) fui de novo à Ribeira de S. Miguel, não vou falar do caminho (era outro mas a aventura foi igual…) Não vou dizer que aquela homilia podia ser feita numa bela Catedral (mas podia…) Mas vou dizer que cada uma das pessoas que lá estava foi convidada a reflectir sobre o “Rei” que orienta e governa o seu coração… o “rei poder”, o “rei dinheiro”, o “rei prazer” ou o “rei dos Judeus”, Jesus Cristo… o único que ajuda cada homem/mulher a ser verdadeiramente FELIZ e a encontrar a VIDA ETERNA…
Em época de Campanha Eleitoral, aqui em Cabo Verde, esta foi certamente a mensagem mais credível que cada um de nós ouviu neste dia… Dei graças a Deus por este caminho tão irregular que, mesmo assim, permite que cheguem aqui os pés “do mensageiro de Deus” e transmita aos homens PALAVRAS DE VIDA ETERNA!